1. Com este encontro dos funcionários, voluntários e amigos do Instituto de
S. Miguel cumprimos o 2º ato da Celebração do Centenário da Liga dos Servos de
Jesus.
Como consta dos próprios estatutos, o Instituto de S. Miguel é o instrumento
oportunamente criado para dar cumprimento ao carisma da Liga dos Servos de
Jesus, principalmente em duas das suas componentes. Uma delas, a ação
educativa e a outra a ação social.
Hoje este encontro para o qual foram convidados todos aqueles que dão o seu
contributo para a vida do Instituto de S. Miguel queremos vivê-lo sob o signo do
carisma da mesma Liga dos Servos de Jesus; e agradecer a Deus, em primeiro
lugar o dom do seu Fundador, o servo de Deus D. João de Oliveira Matos, cuja
beatificação/canonização aguardamos, com justificada esperança. Depois
queremos pedir para a Liga dos Servos de Jesus como tal a luz de Deus para
saber ajustar a vivência do carisma que lhe está confiado às novas circunstâncias
do mundo e da Igreja, na atualidade.
E naturalmente pedir para cada um e cada uma dos seus mais de 200
funcionários e voluntários e amigos a capacidade para juntar ao rigor técnico do
seu trabalho o espírito que o carisma da Liga dos Servos de Jesus lhes inspira. O
Instituto de S. Miguel é, na realidade, uma IPSS e como tal cumpre as regras e
sujeita-se à lei geral que regula todas as IPSS,s. Mas é seu dever juntar-lhe a
identidade cristã derivado do carisma que o criou e o superintende.
Esperamos que a comemoração deste centenário a todos nos ajude a
redescobrir as marcas distintivas desta IPSS que é o Instituto de São Miguel.
2. Escutámos a Palavra de Deus que em primeiro lugar nos apresenta a
experiência do Profeta feita de sedução pela causa que abraça, de algum
desencanto pelas dificuldades que encontra no cumprimento da missão, de
desânimo com a tentação de abandonar o barco, mas também da força interior
que o obriga a seguir em frente, contra tudo e contra todos, arriscando a
própria vida.
Na vocação deste profeta nos encontramos muitos traços da nossa vida pessoal
e mesmo profissional. É natural o entusiasmo inicial pelas causas que
abraçamos, neste caso, as causas do Instituto de S. Miguel, que são bem nobres
e ajustadas às necessidades das pessoas e da sociedade atual.
Também é respeitável que esse entusiasmos inicial tenha de confrontar-se
com dificuldades inerentes a todos os projetos e aos trabalhos que os
suportam. Nesse confronto também é natural que nos venha a tentação do
desânimo, mas depois se soubermos estar atentos ouviremos de novo aquela
voz interior que nos diz para seguirmos em frente, apesar dos sacrifícios e
riscos implicados.
No Evangelho de hoje Jesus anuncia aos seus discípulos que o êxito, os bons
resultados finais, neste caso a vitória da vida sobre a morte, na Ressurreição
têm um preço a pagar.
No caso de jesus este preço foi a prisão, a condenação injusta à morte e a
morte na cruz.
Pedro teve a ousadia de repreender Jesus, porque não aceitava pagar este
preço. Jesus deu-lhe a resposta mais dura que alguma vez saiu dos seus lábios,
dizendo afasta-te daqui satanás, porque és ocasião de escândalo pois colocas
os teus interesses à frente dos interesses de Deus, que são efetivamente os
interesses de toda a Humanidade. E aproveita para lhes dar uma lição, dizendo
o que é efetivamente viver – é renunciar a si mesmo pegar na cruz própria e
dos outros, à maneira do mesmo Jesus. E nisto é de tal maneira verdade que
quem quiser salvar a sua vida, isto é, guardá-la só para si, para o cultivo dos
seus interesses perde-a: mas quem aceitar perder a vida, isto é, entrega-la por
grandes causas como é a causa de Jesus, esse é que a salva.
Nesta linha, tem plena razão de ser a interpelação que Jesus faz – Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua vida. Esta é
de facto, uma interpelação feita a cada um de nós e vale a pena não a deixar
cair em saco roto, mas fazer o critério fundamental das opções que
constantemente temos de tomar na nossa vida.
Na realidade sentimos que este são o pensar comum e a forma dominante de
organizar a vida no mundo de hoje. As sociedades parecem querer regular-se
mais pelos interesses individuais de pessoas e grupos do que pelo grande e
nobre objetivo de promover o verdadeiro bem comum para todos. Por isso é
bom termos em conta a recomendação de S.Paulo às comunidades de Roma,
quando diz – Não vos conformeis com este mundo. Trata-se de uma
recomendação que é hoje mais atual do que nunca, pois é que precisamos de
realizar nas nossas vidas, antes de mais ´´e um bom discernimento que distinga
o que é bom do seu contrário, o que agrada a Deus e se ajusta ao bem com
diferente dos interesses individuais e de grupos, enfim os caminhos da
perfeição que nos ajudam a progredir sempre sabendo nós que a meta desse
perfeição nunca a atingimos por inteiro.
Que Deus nos ajude a fazer do Instituto de S.Miguel o lugar e o caminho dos
bons serviços à comunidade segundo o carisma da Liga dos Servos de Jesus.
Outeiro de São Miguel, 2.9.2023
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
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