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Festa da Liga dos Servos de Jesus - Sé da Guarda, 9/09/2023 - Homilia

Celebramos a festa anual da Liga dos Servos de Jesus, no ano em que se cumpre o centenário da Sagração Episcopal do Servo de Deus, D. João de Oliveira Matos, seu Fundador.



E pretendemos, a propósito, nesta celebração invocar as bênçãos de Deus para todos os sacerdotes, a começar pelos que constituem o Presbitério da Guarda, para que o exemplo deste Bispo, agora venerável servo de Deus seja verdadeiramente motivador da nossa ação pastoral como sacerdotes nos dias de hoje.

Aos 44 anos, completados no ano da sua sagração Episcopal tinha já feito 


um percurso notável de serviço à Igreja nos vários sectores da pastoral que foram requerendo a sua presença e a sua ação.

Ordenado sacerdote pelo Bispo de Viseu poucos meses antes da chegada à Diocese do novo bispo, D. Manuel Vieira de Matos, este, de imediato identificou as suas capacidades e nomeou-o para a equipa do novo Seminário, por ele mesmo criado, na Quinta da Mitra, no Mondego.

Serviu dedicadamente a formação sacerdotal deste Seminário de Nossa Senhora do Mondego, como chegou a ser chamado e depois durante algum tempo no Seminário seiscentista Guarda, que, pouco tempo depois foi compulsivamente encerrado.

Depois de algum tempo no exercer das funções de Pároco em Celorico da Beira foi chamado pelo novo arcebispo de Braga, que para estas funções transitava da Guarda, D. Manuel Vieira de Matos, para seu braço direito no trabalho da pastoral desta vasta arquidiocese. A eficácia do seu trabalho feito de discrição e humildade, sempre ao lado do arcebispo, não passou despercebida.

Por isso o novo Bispo da Guarda requisitou os seus serviços para Visitador Diocesano e solicitou a Roma para ele faculdades especiais, incluindo a de presidir ao Santo Sacramento da Confirmação ou Crisma. Antes da ordenação Episcopal, que viria a acontecer 3 anos depois do regresso à Diocese, substituía em larga medida, o Bispo Diocesano no trabalho pastoral da Diocese, ensaiando desde então o que haviam de ser as visitas pastorais que marcaram profundamente a sua ação na vida da Diocese.

A Sagração Episcopal viria a acontecer em 25 de Julho de 1923, depois de publicada a nomeação no final do ano anterior.

A sua humildade, discrição e sentido do serviço quiseram, durante meses, resistir a esta nomeação, por a considerar uma honra imerecida, o que está documentado no processo que precedeu a sua como qualquer outra nomeação episcopal. Acabou por aceitar este mandato do Santo Padre para o maior bem da Igreja.

Podemos dizer que a Sagração Episcopal não mudou muita coisa na vida de Mons. João de Oliveira Matos Ferreira, agora D. João. Continuou o mesmo trabalho através da Diocese que já antes realizava, sempre determinado a promover a maior glória de Deus e a salvação das pessoas, no propósito de contribuir para que Jesus reine, no coração das pessoas, na vida da Igreja e da própria Sociedade.

E foi a concretização deste nobre ideal que o levou a procurar o instrumento da Liga dos Servos de Jesus, indicado para esse efeito.

Também hoje a nossa missão de sacerdotes se cumpre quando procuramos definir o melhor possível as ações a desenvolver conjuntamente para serviço da Igreja o bem das pessoas e da própria sociedade. E depois quando procuramos os meios indispensáveis para levar à prática essas ações. E aqui os meios humanos, que precisamos de identificar, convocar, formar e acompanhar têm de estar sempre em primeiro lugar. Formação da Fé bem enraizada numa espiritualidade forte, a começar pelo amor à Eucaristia, foram as duas notas fundamentais de preocupação pastoral do Sr. D. João, que não perderam nenhuma atualidade. Pelo contrário serão sempre os indicadores primeiros do Espírito Santo transmitidos a cada um de nós sacerdotes, primeiros responsáveis, nas nossas comunidades pelo anúncio da mensagem e pela oferta do alimento necessário à caminhada da Fé.

“O Espírito Santo está sobre mim porque Ele me ungiu e me enviou para levar a boa nova aos pobres, confortar os corações atribulados…a proclamar o ano da graça do Senhor”. Ouvimos hoje estas palavras do Profeta.

Esta unção do Espírito é a marca distintiva da identidade messiânica de Jesus, como Ele mesmo a afirmou na Sinagoga de Nazaré; também é distribuída a todos os discípulos de Jesus no seu batismo e aprofundada na vida de alguns que são especialmente mandatados para o serviço da Igreja, quer na ordem sacerdotal quer na ordenação Episcopal.

A nós sacerdotes esta unção lembra-nos e indica-nos a urgência de levar consolação aos tristes e desanimados, de estabelecermos na nossa vida a prioridade de estarmos próximos dos que mais precisam, como são os pobres, os doentes , os que por qualquer razão perderam a esperança.

O exemplo de vida sacerdotal que nos legou o Sr. D. João como Padre e depois como Bispo, cumpre na perfeição a mensagem que nos transmite o Evangelho de S. Mateus que escutámos.

A sua humildade e espírito de serviço são perfeitamente o contrário das honras que a mãe dos filhos de Zebedeu pedia a Jesus para eles, com inveja dos outros dez. Por outro lado, sabemos como o Sr. D. João abraçou o cálice da dor, do sofrimento e da entrega sem reservas, à maneira do mesmo Jesus. Toda a sua vida de 83 anos, com 59 anos de serviço sacerdotal, dos quais 39 de ministérios episcopal foram de entrega exemplar à causa de Jesus e da Igreja, o que se encontra largamente testemunhado e documentado no seu processo de beatificação/canonização, que, de momento, chegou à fase da declaração das suas virtudes heroicas, esperando nós para breve o cumprimento das fases seguintes, nomeadamente da beatificação e canonização.

De facto e voltando ao Evangelho, os apóstolos, até às vésperas da Paixão do Senhor, sonhavam com o prestígio social e a glória política.

Mas de facto no Evangelho não há lugar para essa ambição de poder, de corrida às honras e aos proveitos materiais.

A Salvação da humanidade e também a autenticidade do nosso serviço sacerdotal têm outros caminhos e outro preço. Os caminhos são os de Jesus, que o Venerável servo de Deus D. João tão bem soube exemplarmente interpretar de forma aplicada aos tempos atuais e à realidade desta Diocese que é a nossa. O preço é a entrega sem reservas à causa de Jesus, até à morte, como Ele fez.

S. Paulo lembra-nos na II carta aos coríntios qual é o grande serviço que o mundo precisa e espera da Igreja e em particular dos sacerdotes. É o serviço da reconciliação com Deus, de todos os seres humanos entre si e com a própria natureza. É este um serviço que pede total entrega da nossa vida, como Jesus também entregou a sua vida até ao extremo da morte e da morte na cruz.

Somos convidados a experimentar e testemunhar que não vivemos para nós mesmos, mas vivemos para Aquele que morreu e se entregou por nós e n’Ele vivemos para inteiro serviço dos irmãos.

Diante do exemplo do Venerável Servo de Deus nosso Fundador, sentimos que temos pela frente longo caminho a percorrer até acertar de verdade o nosso passo com Jesus e de forma ajustada às circunstâncias da Igreja e do mundo na atualidade.

Fica-nos o incentivo e a motivação que nos vêm deste exemplo e também a certeza de que neste caminho a companhia da Liga dos Servos de Jesus nos servos internos e externos, é um importante conforto.

A terminar apraz-nos trazer à memória as recomendações que o Servo de Deus repetia aos membros da Liga, nos momentos finais da sua vida:

“Façam aos sacerdotes todo o bem que puderem e da Obra façam viveiro de vocações sacerdotais que possam servi-la.

Rezamos ao Senhor para que a celebração do centenário da Liga também possa levar aos nossos sacerdotes renovado incentivo para serem os sacerdotes que a Igreja precisa, segundo o coração de Cristo.


+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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