Maria Conceição Elias nasceu na Arrifana, a 30 de dezembro de 1938.
A “obra dos retiros”, promovida pela Liga dos Servos de Jesus, funcionava em pleno e após um desses encontros – para raparigas, no Outeiro de São Miguel, inda muito nova, soube que Deus a chamava para colaborar no reinado de Cristo de uma forma especial e ficou a viver nessa comunidade onde, além de colaborar com a oração de reparação a que todas se dedicavam, foram-lhe atribuídas várias tarefas: cozinheira e vigilante de crianças são as mais recordadas.
Com uma escolaridade incipiente e que já ia ficando para trás, mas com vários anos de prática, fez um curso de promoção que a habilitou para lidar com crianças e por mais de 5 anos esteve em Lagarinhos – uma localidade no município de Gouveia, onde, em tempos idos, além de jardim infantil funcionou também um posto médico.
Abrira, na diocese, o Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos; ela foi incorporar a comunidade que o inaugurou. Mas também nesse ano se ordenou presbítero um sobrinho, o padre Manuel Elias e todas recordamos como a sua alegria dificilmente podia ser maior. Intuiu que a sua vocação mais exclusiva estava a bater-lhe à porta e pensou que seria o apoio, na casa paroquial, a este sacerdote a quem foram atribuídos os povos de Sandomil, São Gião, Vide, Sazes da Beira e Alvoco da Serra, no concelho de Seia. Mas o chamamento definitivo não era, ainda, esse.
Ao fim de 2 anos, veio para a Casa de Santa-Luzia e, ora na cozinha ora na receção à porta, impressionou pelo zelo com que divulgava a estrutura Residencial para Pessoas Idosas que estava a nascer no bairro de S. Domingos da Guarda, e para a qual despertou generosidades e donativos.
No início de 2000 vamos encontrá-la na “Casa de Trabalho Jesus, Maria e José” no Rochoso. Era a responsável pela chamada casa-berço, onde a Liga dos Servos de Jesus queria voltar a promover retiros de formação espiritual para leigos.
Numa manhã de Outono, queixou-se que se estava a sentir mal e perguntou, em voz alta, se lhe estaria a dar alguma coisa... Na sequência sofreu um AVC, foi no dia 20 de outubro de 2002. A sua vocação de vítima começara. Foram mais de vinte anos paralisada!
Deu entrada, no serviço de acamados da Casa de Acolhimento de São João de Deus, no mês novembro desse ano, após os vereditos do hospital do Porto e de Coimbra de que as sequelas eram irreversíveis.
Enfrentou cada dia com uma tranquilidade que poucos de nós conseguimos compreender. Mas, a permanência numa cama não foi marcada por essa limitação física. Não.
Dessa fase, o que nos impressiona é a incrível capacidade de encontrar alegria, de sorrir e de valorizar cada momento e cada encontro que lhe era dado viver.
Quando nos aproximávamos, recebia-nos com alegria e cantava. Incapaz de verbalizar frases, trauteava: “lá-lá-lá”, enquanto acenava e a seu modo demonstrava que reconhecia quem tinha chegado.
Testemunhámos como as cuidadoras a tratavam com empatia e compaixão; ela mesma a gerava à sua volta. A sua resiliência manifestava que: não é mobilidade física que dá significado e propósito à vida.
Faleceu a 11 de outubro de 2023. Na missa de corpo presente estiveram o assistente geral da Liga dos Servos de Jesus, P.e Manuel Igreja, o P.e José Pinto Geada, o P.e José Martins e o diácono permanente António Diogo.
Ao celebrarmos agora, não apenas a sua passagem para o Céu mas, também, a jornada incrível de encontro com Deus, refletimos sobre a fé com que enfrentou a adversidade. Lamentarmos esta perda por não sabermos quantas graças ela estava a alcançar-nos a cada momento, em cada respiração; mas, a sua memória ajuda-nos a interiorizar que, mesmo nas situações mais difíceis, a vida pode ser bela, cheia de graça e de sentido.
Comentários