Numa escada de ‘degraus’ bem pequeninos e sempre a subir
Lucília da Cruz dos Santos nasceu no dia 10 de setembro de 1924, na pequenina aldeia de Rapa, Celorico da Beira, sete meses depois da fundação da Liga dos Servos de Jesus pelo Sr. D. João. Foram seus pais Josefina Cruz e César Augusto Santos. Este casal tinha mais uma filha e um filho.
Com a idade de 17 anos, em 1941, não sabemos como nem porquê, entrou na Obra do Senhor D. João. Acolheu-a a comunidade do Outeiro de São Miguel.
Agora Lucília Cruz dos Santos acaba de ‘partir’ com a bonita idade de quase noventa e oito anos. Sua irmã foi mais longe. Alcançou os 104 anos de idade. (Bem bonito rol).
Ao deixar a comunidade do Outeiro, passou a integrar a comunidade da Cerdeira do Côa. Aí assumiu a responsabilidade de ‘Professora de Lavores’ ensinando muitas alunas desejosas de aprender essa arte. Por perto, fica o local e as termas do Cró orientadas, nessa altura, pelas irmãs Servas de Jesus. Muitas vezes, aí apareceu numa missão de acolhimento, serviço de portaria e outros. Serviçal e atenciosa a todos recebe carinhosamente prestando as indicações necessárias aos utentes.
É nesta mesma missão que a encontraremos depois em Buarcos, Figueira da Foz, colaborando com a irmã Ana, responsável de então da Casa de São Pedro.
Foram, nada mais nada menos, trinta e quatro anos de serviço, doação e entrega numa missão muito peculiar. Como irmãs inseparáveis tanto ela como a irmã Albertina procuram o melhor para a referida instituição.
Depois em 2007, ao ser nomeada irmã Albertina como coordenadora da Casa de Santa Luzia, também ela regressou à Guarda para fazer parte da nova comunidade.
Quantas vezes não pediu ela à irmã Albertina que lhe desse ‘algo para fazer’. Foi assim que, enquanto pode, voltou a fazer o serviço de atendimento, portaria e telefone, sempre com a generosidade que a caracterizava.
Passados anos, as forças começaram a faltar e de trabalhadora incansável que era, entrou numa fase de vida de menor visibilidade. Foi ficando pelo seu quartinho. O evoluir da sua doença levou-a a acamar. Visitada carinhosamente pelas irmãs e outras pessoas, pouco se fazia ouvir. Mas a sua comunhão com Deus e com Jesus eucaristia reforçou-se significativamente.
Esta última fase, por razões óbvias, passou-me quase despercebida. Só de fugida a cumprimentava, mas era sempre com um sorriso que ela me respondia.
Soube da sua partida pouco tempo depois desta acontecer Foi a irmã Albertina que ao comunicar-me a notícia, amavelmente me pediu para redigir o que estou a escrever. Pediu-me para referir a simplicidade, a alegria e a simplicidade da irmã Lucília. Confidenciou-me que foi ela quem, de alma e coração, cuidou da Senhora D. Cândida até à morte. Um dia a irmã Lucília ter-lhe á dito e desabafado que ela tinha muita sorte pois alguém cuidava dela e que talvez quando chegasse a vez dela ninguém o faria. Ter-lhe-á respondido a Srª D. Cândida para não se preocupar, alguém iria cuidar dela também. Verdade que não se enganou. A Irmã Albertina e todas as outras irmãs cuidaram dela o melhor possível. Deus providencia sempre, diz a Escritura.
Lucília da Cruz era uma irmã afável. Nunca se deu conta de criticar quem quer fosse. Mesmo quando tinha razão para tal, ou fosse tratada de modo menos delicado por alguém, tenazmente evitava dizer donde tinha partido essa falta de caridade.
Era impossível que, diariamente, não visitasse o seu ‘Senhor’, Jesus Eucaristia. Não só O Visitava como Lhe rezava ferverosamente.
Mas a sua grande paixão era cantar os louvores da Santíssima Trindade. Por vezes, fazia-o ao desafio. Cantava, cantava à Trindade de modo emocionado. Quem o conhece recite-o também. Para ser mais fácil aqui o transcrevemos:
Pessoalmente retenho dela o olhar sempre atento ao que se dizia ou se fosse pedir para atender de imediato; o sorriso doce de quem gostava e se sentia feliz em poder ajudar; sem participar em muitas atividades da Liga seria a primeira a rezar para que tudo corresse bem.
Já na reta final da sua existência terrena, surpreendeu-me a sua docilidade em se deixar ajudar, a paciência no seu sofrimento sempre ‘casado’ com as muitas horas de silêncio no seu quarto, altar da sua oferta ao Senhor e o estar preparada para a chegada do Esposo.
Se é difícil subir os ‘degraus’ do nosso altar, os ‘degraus’ do altar dela foram muitos, muitos e bem pequeninos, mas sempre a subir numa perfeita doação ao Senhor.
O Senhor despojou-a de tudo para a enriquecer com dons mais sublimes Adormeceu, inesperadamente, no seu Senhor, Uno e Trino, no dia 13 de agosto, no Hospital da Guarda. Foi a sepultar na sua terra natal, Rapa, por vontade expressa dos seus sobrinhos, no dia da vigília de Nossa Senhora da Assunção. A mãe de Jesus ter-lhe-á sorrido e apontado para Seu Filho a Quem sempre quis servir como serva.
Agora sim, junto de Deus, cantará extasiada uma ladainha de louvores, de amor e de gratidão à Santíssima Trindade.
Paz Eterna para ela.
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