(…) Em suma, um pobre não poderá jamais encontrar Deus indiferente ou silencioso perante a sua oração.
(III
DIA MUNDIAL DOS POBRES=
Neste dia 17, mês de Novembro, a Igreja celebra
o Terceiro Dia Mundial dos Pobres. Este dia foi instituído pelo Papa Francisco.
Da sua mensagem, para este acontecimento, retiramos pequenos excertos que pomos
em destaque.
Depois recordamos o poema do nosso poeta,
Augusto Gil, em “ Os Simples. Este poema encontra-se repassado de sentimentos
humanos e porque não dizê-lo de sentimentos cristãos.
Mensagens sempre mais que oportunas porque: - “Pobres sempre os tereis” - dizia Jesus
Cristo.
(Excertos da mensagem do Papa Francisco)
1. «A esperança dos
pobres jamais se frustrará» (Sal 9, 19). Estas palavras são de incrível
atualidade. Expressam uma verdade profunda, que a fé consegue gravar sobretudo
no coração dos mais pobres: a esperança perdida devido às injustiças, aos
sofrimentos e à precariedade da vida será restabelecida.
No período da redação
do Salmo, assistia-se a um grande desenvolvimento económico, que acabou por
gerar fortes desequilíbrios sociais. A desigualdade gerou um grupo considerável
de indigentes … Observando esta situação, o autor sagrado pinta um quadro
realista e muito verdadeiro.
2. Também hoje devemos
elencar muitas formas de novas escravidões a que estão submetidos milhões de
homens, mulheres, jovens e crianças. Todos os dias encontramos famílias
obrigadas a deixar a sua terra à procura de formas de subsistência noutro
lugar; órfãos que perderam os pais ou foram violentamente separados deles para
uma exploração brutal; jovens em busca duma realização profissional, cujo
acesso lhes é impedido por míopes políticas económicas; vítimas de tantas
formas de violência, desde a prostituição à droga, e humilhadas no seu íntimo.
Além disso, como esquecer os milhões de migrantes vítimas de tantos interesses
ocultos (…) Quantas vezes vemos os pobres nas lixeiras a catar o descarte e o
supérfluo, a fim de encontrar algo para se alimentar ou vestir! Tendo-se
tornado, eles próprios, parte duma lixeira humana, são tratados como lixo, sem
que isto provoque qualquer sentido de culpa em quantos são cúmplices deste
escândalo. Aos pobres, frequentemente considerados parasitas da sociedade, não
se lhes perdoa sequer a sua pobreza. A condenação está sempre pronta. (…).
Vagueiam duma parte para outra da cidade, esperando obter um emprego, uma casa,
um afeto…
Com vivo realismo, o
salmista descreve o comportamento dos ricos que roubam os pobres: «Arma ciladas
para assaltar o pobre e (…) arrasta-o na sua rede» (cf. Sal 10, 9). Para eles,
é como se se tratasse duma caçada, na qual os pobres são perseguidos, presos e
feitos escravos.
3. O contexto descrito
pelo salmo tinge-se de tristeza, devido à injustiça, ao sofrimento e à amargura
que fere os pobres. Apesar disso, dá uma bela definição do pobre: é aquele que
«confia no Senhor» (cf. 9, 11), pois tem a certeza de que nunca será
abandonado. Na Escritura, o pobre é o homem da confiança(…) Encontramo-nos
perante uma descrição verdadeiramente impressionante, que nunca esperaríamos.
Assim faz sobressair a grandeza de Deus, quando Se encontra diante dum pobre. A
sua força criadora supera toda a expetativa humana e concretiza-se na
«recordação» que Ele tem daquela pessoa concreta (cf. 9, 13). (…) esta certeza
de não ser abandonado, convida o pobre à
esperança. Sabe que Deus não o pode abandonar;
4. (…) Em suma, um
pobre não poderá jamais encontrar Deus indiferente ou silencioso perante a sua
oração.
5. (…) A Palavra de
Deus indica que os pobres são todos aqueles que, não tendo o necessário para
viver, dependem dos outros. São o oprimido, o humilde, aquele que está
prostrado por terra. Mas, perante esta multidão inumerável de indigentes, Jesus
não teve medo de Se identificar com cada um deles: «Sempre que fizestes isto a
um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).
6. Ao aproximar-se dos
pobres, a Igreja descobre que é um povo, espalhado entre muitas nações, que tem
a vocação de fazer com que ninguém se sinta estrangeiro nem excluído, porque a
todos envolve num caminho comum de salvação. A condição dos pobres obriga a não
se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles. (…) A promoção, mesmo social,
dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo
contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica
7. «A opção pelos
últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora», é uma escolha
prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a abraçar para não trair a
credibilidade da Igreja e dar uma esperança concreta a tantos indefesos. É
neles que a caridade cristã encontra a sua prova real, porque quem partilha os
seus sofrimentos com o amor de Cristo recebe força e dá vigor ao anúncio do
Evangelho.
O compromisso dos
cristãos, por ocasião deste Dia Mundial e sobretudo na vida ordinária de cada
dia, (…) devem tender a aumentar em cada um aquela atenção plena, que é devida
a toda a pessoa que se encontra em dificuldade.
8.(…) Queridos irmãos
e irmãs, exorto-vos a procurar, em cada pobre que encontrais, aquilo de que ele
tem verdadeiramente necessidade; (…) Nunca vos esqueçais que «a pior
discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual» Antes de
tudo, os pobres precisam de Deus, do seu amor tornado visível por pessoas
santas que vivem ao lado deles e que, na simplicidade da sua vida, exprimem e
fazem emergir a força do amor cristão. (…) Os pobres precisam das nossas mãos
para se reerguer, dos nossos corações para sentir de novo o calor do afeto, da
nossa presença para superar a solidão. Precisam simplesmente de amor…
9. Por vezes, basta
pouco para restabelecer a esperança: basta parar, sorrir, escutar. Durante um
dia, deixemos de parte as estatísticas; os pobres não são números, que
invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem
devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a entrar
em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que esperam uma
palavra amiga. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de
Jesus Cristo.
10. O Senhor não
abandona a quem O procura e a quantos O invocam; «não esquece o clamor dos
pobres» (Sal 9, 13), porque os seus ouvidos estão atentos à sua voz. (…) A sua
condição de pobreza não lhe tira a dignidade que recebeu do Criador; vive na
certeza de que a mesma ser-lhe-á restabelecida plenamente pelo próprio Deus.
(…) Acompanhem-nos as
palavras do profeta que anuncia um futuro diferente: «Para vós, que respeitais
o meu nome, brilhará o sol de justiça, trazendo a cura nos seus raios» (Ml 3,
20).
Vaticano, na Memória litúrgica de Santo António de
Lisboa, 13 de junho de 2019.
Francisco
OS POBREZINHOS
Pobres de pobres são pobrezinhos Almas sem lares, aves sem ninhos. Passam em bandos, em alcateias, Pelas herdades, pelas aldeias. É em Novembro, rugem porcelas. Deus nos acuda, nos livre delas! Vem por desertos, por estivais, Mantas aos ombros, grandes bornais, Como farrapos, coisas sombrias, Trapos levados nas ventanias. Filhos de Cristo, filhos d’ Adão Buscam no mundo côdeas de pão! Há-os ceguinhos, em treva densa, D’ olhos fechados desde nascença. Há-os com feridas esburacadas, Roxas de lírios, já gangrenadas. Uns de voz rouca, grandes bordões Quem sabe lá se serão ladrões! Outros humildes, riso magoado, Lembram Jesus que ande disfarçado. Enjeitadinhos, rotos, sem pão, Tremem maleitas d’ olhos no chão Campos e vinhas! hortas com flores! Ai, que ditosos os lavradores! Olha fumegam tectos e lares Fumo tão lindo! branco, nos ares! Batem às portas, erguem-se as mães, Choram meninos, ladram os cães. |
Rezam e cantam, levam a esmola, Vinho no bucho, pão na sacola. Fruta da horta, caldo ou toucinho Dão sempre os pobres a um pobrezinho. Um que tem chagas, velho, coitado, Quer ligaduras ou mel rosado. Outro, promessa feita a Maria, Deitam-lhe azeite na almotolia. Pelos alpendres, pelos currais, Dormem deitados como animais. Em caravanas, em alcateias, Vão por herdades, vão por aldeias. Sabem cantigas, oraçõezinhas, Contos d’ estrelas, reis e rainhas. Choram cantando, penam rezando, Ai, só a morte sabe até quando! Mas no outro mundo Deus lhes prepara Leito o mais alvo, ceia a mais rara. Os pés doridos lhos lavarão Santos e santas com devoção! Para lava-los, perfumaria Em gomil d’ouro a bacia. E embalsamados, transfigurados, Túnicas brancas, como em noivados, Viverão sempre na eterna luz, Pobres benditos, amém, Jesus!
Augusto
Gil
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