EM
DIA DE SÃO MARTINHO…
São
Martinho é um santo mais que popular. É santo amado e pouca gente há que o não
conheça. A ele se associam os magustos, a prova do vinho e de outras bebidas. Não
sei se no tempo dele tal se verificava.
Nascido na Hungria por volta do ano 316, São Martinho de Tours foi um
soldado romano que, depois de receber o batismo e renunciar a milícia, fundou
um mosteiro em Ligugé, França, onde viveu vida monástica. Mais tarde, recebeu a ordem sacerdotal
e foi eleito bispo. Faleceu a 8
de novembro de 397.
A lenda
mais conhecida indica que em Tours se encontrou com um mendigo durante uma
tempestade de neve e, com a sua espada, cortou o seu manto ao meio para
partilhar com o pedinte e resguardá-lo da chuva. Nessa mesma noite,
Martinho sonhou com Jesus vestido com a metade da sua capa e que,
apontando para um grupo de anjos, lhe disse: "Foi São Martinho catecúmeno quem me agasalhou".
A lenda
fala por si e é mais que significativa.
Com a Igreja
que liturgicamente lhe pode dedicar este texto da Sagrada Escritura, reflitamos
um pouco:
“O
Senhor disse a Samuel: Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a
Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Darás por mim a
unção àquele que Eu te indicar.» Fez Samuel como o Senhor
ordenara. Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este
o ungido do Senhor.» Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te
não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu
rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as aparências, mas o
Senhor olha o coração.»
(…) Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum
deles.» E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?»
Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.»
Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes
de ele ter chegado.» David
era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo,
unge-o: é esse.» Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na
presença dos seus irmãos. E, a partir daquele dia, o espírito do Senhor
apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá. (1ª Sam.16 1 ss.)
Como
muitas outras pessoas, Martinho foi enriquecido de muitos e muitos talentos.
Chamado à Vida, ainda que numa família pagã, o Senhor lembrou-se dele.
Sentindo-se apto para a vida militar soube conjugar esta com a necessidade de realizar
o bem.
Depois de batizado e de ter sido convidado por
Deus a algo mais, fundou um mosteiro. Mais tarde ascendeu ao sacerdócio. Depois
de escolhido pela Igreja não se coibiu a aceitar a ordenação episcopal.
Entregaram-lhe a diocese de Tours. Como homem dado à Paz, tudo fez em favor dos
que se guerreavam.
Um
dos grandes dons recebidos foi o seu amor à humildade e a sua generosa entrega
a Deus. A Ele se doou num serviço constante aos irmãos. Nele se revelou e de
que maneira, a virtude da Pobreza evangélica.
À
maneira de Samuel, também Martinho foi ungido pelo Senhor. Em vez de óleo
transportado em âmbula, Martinho recebeu a força de Deus e do Espírito. “Deus olha o coração e não às aparências”
Torna-se
necessário que também sobre nós seja derramado algum desse óleo. É necessário
que as diversas ‘ambulas’ sejam de tamanho significativo para a todos levarem:
·
O óleo da Alegria, fruto da dedicação e
entrega generosa ao Senhor Deus;
·
O óleo da Ternura, fruto dos bens
partilhados com os mais necessitados;
·
O óleo da Vitória para o combate
constante contra as insídias do maligno, do orgulho, da vaidade e da ganância
sempre apta a espezinhar o outro;
·
O óleo do Serviço e da Pobreza, única
riqueza que atravessa a realidades mundanas e outras;
·
O óleo da nossa Filiação divina, que nos
leva à intimidade da Trindade;
·
O óleo que nos Transcende e nos introduz
no Reino de Deus. Este sempre fruto do Amor perene, quando transformado em
serviço e louvor de Deus;
·
O óleo da Ressurreição e Vida Eterna com
Deus, onde o amor é para sempre, a Vida jamais se esgota e sempre rejuvenescida
nos realizará em plenitude.
Na
Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela, num fogareiro aceso é que ele arde. Ao canto do Outono,à esquina do Inverno, o homem das castanhas é eterno. Não tem eira nem beira, nem guarida, e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio. Um carro que se empurra, um chapéu esburacado, no peito uma castanha que não arde. Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza. Apregoa pedaços de alegria, e à noite vai dormir com a tristeza |
É um cartucho pardo a sua vida, e, se não mata a fome, mata o frio. Um carro que se empurra, um chapéu esburacado, no peito uma castanha que não arde. Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado o homem que apregoa ao fim da tarde. Ao pé dum candeeiro acaba o dia, voz rouca com o travo da pobreza. Apregoa pedaços de alegria, e à noite vai dormir com a tristeza. Quem quer quentes e boas, quentinhas? A estalarem cinzentas, na brasa. Quem quer quentes e boas, quentinhas? Quem compra leva mais calor p'ra casa. |
A mágoa que transporta a miséria ambulante, passeia na cidade o dia inteiro. É como se empurrasse o Outono diante; é como se empurrasse o nevoeiro. Quem sabe a desventura do seu fado? Quem olha para o homem das castanhas? Nunca ninguém pensou que ali ao lado ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa. Quem quer quentes e boas, quentinhas? Quem compra leva mais amor p'ra casa.
Ary dos Santos,Paulo de Carvalho,
Carlos do
Carmo
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