1. Iniciamos a nossa assembleia geral abrindo o todo da nossa vida à ação do
Espírito Santo.
O Espírito Santo tem de ser cada vez mais o protagonista único da nossa vida
e da vida das nossas comunidades, a começar pelas comunidades da Liga dos
Servos de Jesus.
Lembra o documento final do Sínodo publicado precisamente fez ontem um
mês que a espiritualidade sinodal nasce da ação do Espírito Santo e requer a
escuta da Palavra de Deus, a contemplação, o silêncio e a conversão do
coração. E acrescenta que esta espiritualidade exige ascese, humildade,
paciência, disponibilidade para perdoar e seu perdoado.
é principalmente para descobrir de novo este protagonismo do Espírito Santo
e a prioridade da Palavra de Deus nas grandes opções da nossa vida pessoal e
comunitária que dedicamos o dia de hoje e de amanhã à Assembleia Geral
prevista nas constituições da Liga dos Servos de Jesus.
Desde já pedimos a infusão do Espírito Santo para estarmos nesta Assembleia
em atitude de humildade e disponibilidade para nos escutarmos
mutuamente, sabendo que o Espírito fala sempre através do outro.
Por isso, deixamos lá fora todos os restos de ambição ou inveja, toda a
tentação de domínio e controlo sobre os outros, procurando, à partida,
revestirmo-nos dos mesmos sentimentos de Jesus que, sendo rico fez-se
pobre, aniquilou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo. E nós
queremos ser servos como Ele e segundo o exemplo que nos deixou Sua Mãe
Maria Santíssima.
Reconhecemos também, à partida para esta Assembleia Geral, que o
ambiente do mundo em que nos encontramos inseridos, não nos ajuda nesta
conversão que queremos fazer para a docilidade ao Espírito Santo.
Vivemos num mundo onde a ambição e o desejo de poder são a lei mais
comum. Aumentam as desigualdades, cresce a desilusão com os modelos
tradicionais de governação, a democracia é um sonho cada vez mais longe de
estar cumprido; crescem os perigos de ditaduras e a tentação de resolver os
problemas pela força e não pela via do diálogo. Por outro lado, a sedução do
consumismo, diante de um mercado sem ética, continua a ser um grande
fator de exclusão social que tem de nos preocupar.
É num mundo assim que fazemos a nossa Assembleia. E com ela queremos
também dar o nosso contributo para que cresça a saúde das nossas
comunidades cristãs paroquiais e outras; para crescermos na
responsabilidade de dar o nosso contributo para que a Igreja e
particularmente esta Diocese que é a nossa se renovem, na fidelidade à ação
do Espírito Santo.
2. A Palavra de Deus que acabámos de escutar é para nos orientar nos trabalhos
desta Assembleia.
Assim, lembra-nos o Profeta Isaías a importância decisiva dos dons do Espírito
Santo, que constituem a força de toda a Iniciação Cristã. Dons que nos ajudam
a pensar – sabedoria, inteligência, conhecimento; dons que nos ajudam a
decidir e cumprir as boas decisões – conselho e fortaleza; dons que nos
organizam na nossa relação com Deus – a piedade e o temor de Deus.
O Evangelho de S. Lucas diz-nos que Jesus é esse rebento de Jessé anunciado
por Isaías. No meio da liturgia semanal da Sinagoga, o próprio Jesus leu a
passagem de Isaías e aplicou-a a si mesmo.
Ele apresenta-se como o Ungido do Espírito (Messias) que vem para anunciar
a Boa Nova aos pobres, a liberdade aos cativos, a libertação aos oprimidos,
para proclamar o Ano da Graça do Senhor.
E perante estas palavras de Jesus, diz o Evangelista, todos se admiravam da
graça que saía da Sua boca.
Ungidos do Espírito somos também nós hoje, em resultado do nosso Batismo,
no qual assenta a responsabilidade com que queremos conduzir a nossa vida,
sempre ao serviço da Igreja e do mundo, como o fez Jesus.
Por isso, escutamos com muita atenção as palavras de S. Paulo na Carta aos
Gálatas.
Diz ele – deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da
carne. E insiste em que os desejos do Espírito são contrários aos desejos da
carne, esses desejos que espontaneamente brotam em todos nós e nos fazem
prisioneiros.
Queremos que esta Assembleia contribua para fortalecer em todos nós os
desejos do Espírito de que resultam em nós e nas nossas comunidades os
frutos do Espírito Santo, que São Paulo enumera assim: caridade, alegria, paz;
paciência, bondade e benignidade; fidelidade, mansidão e temperança.
Também a nós se aplica a conclusão da leitura de hoje: se vivemos pelo
Espírito, caminhemos também segundo o Espírito.
Estamos nesta Assembleia para concretizarmos as formas de caminhar no
Espírito que nos são recomendadas pelo carisma que nos está confiado.
Queremos fazê-lo utilizando o método que o Sínodo nos recomenda, a saber,
a conversação no Espírito, a qual permite a escuta mútua e o discernimento
“do que o Espírito diz às Igrejas” (Apoc.) e a nós mesmos, na situação
concreta que estamos a viver.
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
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