MÊS DE JULHO
Também
recordei um artigo escrito por alguém que diz não concordar com o facto de
Santo António ser tratado como um santo “casamenteiro”. Certo é que o povo e muitas
pessoas interessadas o têm como tal e sobre isso nada há a fazer. Nesse
sentido, recordei também Augusto Gil, o poeta da Guarda, e o seu poema: “O passeio de Santo António” que não resisto em transcreve-lo.
O PASSEIO DE SANTO ANTÓNIO
Saíra Santo António do convento,
A dar o seu passeio costumado E a decorar, num tom rezado e lento, Um cândido sermão sobre o pecado. Andando, andando sempre, repetia O divino sermão piedoso e brando, E nem notou que a tarde esmorecia, Que vinha a noite plácida baixando… E andando, andando, viu-se num outeiro, Com árvores e casas espalhadas, Que ficava distante do mosteiro Uma légua das fartas, das puxadas. Surpreendido por se ver tão longe, E fraco por haver andado tanto, Sentou-se a descansar o bom do monge, Com a resignação de quem é santo… O luar, um luar claríssimo nasceu. Num raio dessa linda claridade, O Menino Jesus baixou do céu, Pôs-se a brincar com o capuz do frade. Perto, uma bica de água murmurante Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais. Os rouxinóis ouviam-se, distante. O luar, mais alto, iluminava mais.
De braço dado, para a fonte,
vinha
Um par de noivos todo satisfeito. Ela trazia ao ombro a cantarinha, Ele trazia… o coração no peito. |
Sem suspeitarem de que alguém os
visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo. O Menino, porém, ouviu e disse: – Ó Frei António, o que foi aquilo?… O Santo, erguendo a manga de burel Para tapar o noivo e a namorada, Mentiu numa voz doce como o mel: – Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada… Uma risada límpida, sonora, Vibrou em notas de oiro no caminho. – Ouviste, Frei António? Ouviste agora? – Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho. – Tu não estás com a cabeça boa… Um passarinho a cantar assim!… E o pobre Santo António de Lisboa Calou-se embaraçado, mas por fim, Corado como as vestes dos cardeais, Achou esta saída redentora: – Se o Menino Jesus pergunta mais, …Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora! Voltando-lhe a carinha contra a luz E contra aquele amor sem casamento, Pegou-lhe ao colo e acrescentou: – Jesus, são horas… E abalaram pró convento. |
Só do nosso, sempre e
inesquecível, Augusto Gil.
Pessoalmente,
gosto muito deste poema. Um raio de claridade pelo qual a Graça, o Deus-Menino
se digna descer para vir a ter com frei António a braços com o sermão sobre o
pecado; a familiaridade do Menino com Santo António e a ternura e paciência de
Santo António com o Menino; a graciosidade da criança, que experimenta a
sabedoria do adulto, quando ela já sabe a solução; a tenacidade em forçar pergunta-resposta
levando-a para um outro sentido; as ‘piedosas mentiras’ de que toda a gente se
ri; uma solução imprevista quanto ‘redentora’; a presumível e doce autoridade
da mãe, respeitada pelo Menino e que jamais foi ofendida; uma ecologia que
tanta falta faz em nossos tempos; um namoro sincero que se encaminha para um
noivado; um amor apaixonado que nada vê, nem quem o rodeia, cega-se no olhar do
outro; e tudo, tudo o mais que a imaginação do leitor queira exprimir…
Em
todas estas realidades, se espelha, a meu ver, a essência da verdadeira família
e o amor que a nutre. Com elas se fala do Mistério, dos Valores mais altos, da
Alegria que inebria e torna mais suave as agruras da vida. Foi por isso que me
decidi:
Hoje,
mais que nunca, é necessário celebrar, viver, apoiar, saborear e rezar por
todas as famílias.
Hoje,
recordo a família a que pertenço com todos os seus altos e baixos mas sobretudo
com a riqueza que em si encerra.
Hoje,
também quero questionar e celebrar todas as comunidades revestidas com o ‘ADN’
próprio da família.
Hoje,
e sempre, será minha intenção olhar e rezar pelos que vivem o matrimónio,
celebram o seu amor e ao mesmo se mantêm fiéis.
Hoje,
compreenderei melhor os que, com esforço titânico, continuam a acreditar em si
mesmos e no seu amor. Recordarei as famílias que sucumbiram no seu amor.
Hoje,
não deixarei de compreender a dor atroz, a covardia e o desprezo que leva
muitos a procurar um mínimo de ‘Paz’ separando-se de quem, constantemente, faz
da guerra e da violência o seu lema.
Hoje,
rezarei por todos os casais. Nesse sentido também Santo António não deixará de
interceder por eles. E já que o Povo o considera como o Santo das ‘coisas
perdidas’ que através de Santo António, cada casal possa reencontrar o AMOR, quando
perdido.
Quem
se associa e aceita esta proposta?!
·
Recordemos que Santo António é também
padroeiro da Liga dos Servos de Jesus.
Guarda, 01-07-2019
________________
P.
Alfredo Pinheiro Neves
[1] P.S. Peço desculpa por só agora editar este pequenino artigo.
Ainda que o mesmo tenha sido escrito em tempo devido, não foi possível editá-lo
mais cedo. A vossa compreensão.
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