- Quem vive em Deus, sendo por Ele iluminado, não gera sombra, nem retira a luz aos demais, pois a mesma se encarnou por todos...
Veio-me
ao pensamento, não sei quando, abordar este tema. Talvez não houvesse tempo ou oportunidade
para isso. Acabou por cair no esquecimento. Não há muito e face às notícias recentes,
recordei-me dele outra vez. Talvez seja agora o momento de o refletir convosco
embora muito ao de leve.
Aquilo
que o fez vir à minha memória foram as notícias que davam conta da descoberta
de um pequenino Sol existente na constelação “Aquarius” e que está à distância de 39 anos-luz, em relação
à terra. Há quantos milhares de anos não existirá essa estrela, a quem deram o
nome de TRAPIST 1, bem como os seus sete planetas. Todos eles parecem ser da
dimensão da Terra e pelo menos três deles apresentam-se com caraterísticas tão iguais
quer no tamanho, temperatura e configuração que os cientistas não descartam a
possibilidade da existência de água neles o que potencia ainda mais a existência
de Vida fora do nosso “sistema”
solar.
A
estrela TRAPIST 1, que os sustém e
os faz gravitar com as suas órbitas em torno de si, é uma estrela muito mais
pequena que o nosso Sol. Em tamanho é apenas 11%. TRAPIST 1 também é uma estrela muito mais fria e mais encarnada que
o nosso Sol. Alguns dos seus sete planetas mantêm uma das faces sempre voltada
pra ela sendo por isso constantemente iluminada e a outra face, tal como a
nossa lua, sempre às escuras e completamente gelada. Paremos por aqui e oxalá a
Ciência, muito em breve, nos possa surpreender ainda mais sobre este assunto.
Partindo
deste acontecimento, é bem verdade que qualquer fonte de luz que ilumine seja o
que for, faz com que esse “objeto” se torne mais visível e que o mesmo não
deixe de projetar pelo espaço a sua
própria sombra. Por isso sempre que vemos uma sombra ela revela-nos sempre que
algo está a ser iluminado, como também a existência de uma parcela desse mesmo “objeto” que não
recebe diretamente a luz iluminadora.
É
aqui que começa a segunda parte da minha reflexão: O nosso Deus, Luz eterna e
de ordem totalmente diversa, ilumina tudo quanto existe dando-lhe e
conservando-lhe sentido pleno. Deste modo posso entender bem o que escreve São
João Evangelista no Prólogo do seu Evangelho: “O Verbo era a Luz Verdadeira que ao vir ao mundo a todo o homem
ilumina. (Jo. 1, 9 ss); A Vida era a
Luz dos homens; a Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam”.
(1Jo, 4b-5).
Estamos a falar de uma outra Luz bem
diferente, é claro. Luz muito diferente quer na sua essência, quer na sua
maneira de atuar. É a Luz que Deus é em si mesmo. A Luz única que Ele é, para
nós. Deste modo:
- “Todo
aquele que se deixa iluminar por ela, nesse não há trevas”;
- “Aqueles
que a recebem, é-lhes concedido o poder de serem filhos de Deus”;
- “É
nessa Luz que veremos a Luz”;
-
A Luz de Deus que nos ilumina, o Verbo Encarnado, ilumina-nos de tal modo que
em nós não há trevas (nem sombras, digo eu), nem tão pouco as podemos projetar para
os outros, pois além de nós estarmos totalmente iluminados também eles o são
pela mesma Luz que não é nossa, mas sim do próprio Deus. Ela não brota dos
nossos méritos nem dos méritos de ninguém, mas sim da Graça que sendo Ele mesmo
como tal se nos oferece.
-
Quem vive em Deus, sendo por Ele iluminado, não gera sombra, nem retira a luz
aos demais, pois a mesma se encarnou por todos. “Vindo ao mundo tudo ilumina”. No centenário das aparições da
Senhora em Fátima, recordemos as palavras dos pastorinhos logo na primeira
aparição: “A Senhora disse-nos: “a graça de Deus será o vosso conforto”. Ao pronunciar estas palavras abriu as mãos comunicando-nos
uma luz muito intensa como um
reflexo que delas expedia penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma e
fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente do
que nos vemos num espelho”.
É
só nesta e com esta Luz que podemos caminhar. Bem nos avisa Jesus Cristo: “caminhai depressa, enquanto tendes luz!”.
Talvez
a Luz verdadeira se possa apresentar com diversas tonalidades ou diferentes
nomes: Fé, Esperança; Verdade; Misericórdia; Caminho (…). Mas a Luz é só uma:
Deus na Sua essência; Ele que ilumina
todo o homem e o homem todo que nasce para este mundo. Isso aconteceu e
evidenciou-se ainda mais desde que o Verbo se fez carne e habitou connosco.
Quando
iluminados por Deus somos iluminados na totalidade do nosso ser. Basta que o permitamos. Se não nos deixarmos
iluminar “como serão grandes as nossas
trevas”. Para com o nosso Deus jamais poderemos ter o nosso lado lunar. Ele
nos ilumina na Sua Plenitude infinita. Deste modo serão sempre misteriosas e
incompreensíveis as “sombras” que conseguirmos projetar sobre os outros. Há que
destruí-las e isso depende só de nós.
O Tempo Quaresmal é tempo oportuno para
nos deixarmos iluminar e também tempo ideal para não criarmos “sombras efémeras”, “fantasmas” aos que nos rodeiam. Também é tempo de nada recearmos, nem
a sombra
da morte, há muito
vencida na Aurora da Ressurreição.
Guarda 01-03-2017
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P. Alfredo Pinheiro Neves
Assistente Geral
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