Em Dinâmica Quaresmal
Em plena Quaresma, somos convidados, uma vez mais, a entrar
em dinâmica de conversão. Não tarda muito que celebremos a ressurreição de
Jesus Cristo. Esse é o Mistério dos Mistérios. O definitivo. Até lá urge a
nossa conversão como resposta ao apelo de Deus. “ Eu não quero a morte do pecador, mas sim que se converta e viva”; “Eu
vim para que tenham vida e a tenham em abundância”; Não é a morte do pecador
que me interessa, mas sim que ele se converta e viva”.
A vivência do tempo quaresmal e a nossa conversão hão-de
constituir o ato mais expressivo do nosso existir, quer por nos darmos conta da
dignidade a que somos chamados, “A qual
dos anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu filho…?”, quer por causa do plano
de amor divino em que fomos inseridos desde sempre, quer ainda por
reconhecermos aquilo em que, muitas vezes e por culpa própria, caímos. Quanto
a nós, criaturas mortais, somos de facto “filhos
de Deus e ainda se não manifestou o que havemos de ser”. Nessa altura
Transfigurados por Ele e n’Ele, amá-Lo-emos eternamente
Sabemos que sendo filhos de Deus, somos também participantes
da Sua natureza divina já que Jesus Cristo, o Verbo encarnado, assumiu em si a
nossa humanidade. É por essa graça que
integramos e constituímos o corpo místico de Cristo, a Igreja. Também não
podemos esquecer que Deus amor nos habita e somos presença e morada de Deus
entre os demais.
Mas o que nos identifica ainda com o Nosso Deus é a
possibilidade efetiva de dizermos não
a esta proposta de Deus. O exercício da nossa liberdade faz-nos
senhores do nosso próprio destino.
Dizia Santo Agostinho: “… Deus que te criou
sem ti, não te salvará sem ti”.
É agora o tempo favorável de analisarmos a nossa situação
diante de Deus. Tomarmos ainda consciência de que para além da Grandeza a que
somos chamados, estamos revestidos de inúmeras limitações e até de pecado.
Sobre este aspeto ensina-nos a Igreja magistralmente:
“ …. os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno estão ligados a um
desequilíbrio mais profundo, que se enraíza no coração do homem. No íntimo do
próprio homem, muitos elementos lutam entre si. De um lado, ele experimenta,
como criatura, suas múltiplas limitações; por outro, sente-se ilimitado em seus
desejos e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, é
continuamente obrigado a escolher e a renunciar. Mais ainda: fraco e pecador,
faz muitas vezes o que não quer e não faz o que desejaria. (…) é em si mesmo
que o homem sofre a divisão…”
“(…)A Igreja, porém, acredita que Jesus
Cristo, morto e ressuscitado por todo o género humano, oferece ao homem, pelo
Espírito Santo, luz e forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação
suprema; ela crê que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual
possam ser salvos”.
Encontrar este Jesus
morto e ressuscitado, acreditar nele, entregar-se a Ele e fazer d’Ele razão de
viver, é entrar na salvação oferecida por Deus Pai. É realizar a “metanóia”; é,
mediante a fé, passarmos à Esperança e desta à caridade, bilhete singular da
nossa identidade cristã.
Não deixemos de
responder ao apelo do Papa Francisco para a vivência desta quaresma: “ Fortalecei o vosso coração”,
tornemo-lo igual ao de Jesus. Verdadeiramente misericordioso. Que essa
misericórdia reverta a favor do nosso irmão; “onde está o teu irmão?” A indiferença e a tentação do
fechar-se em si mesmo devem ser banidas de todos nós. Se tal não acontecer
seremos membros de Cristo que sofrem e motivam o sofrimento dos outros membros
do mesmo corpo. “ Se um membro sofre,
sofrem todos os outros membros”.
Guarda, 01-03-2015
P.
Alfredo Pinheiro Neves
(Assistente Geral)
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