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Apagou-se mais um luzeiro na terra

 Maria Alice de Jesus Pires, nascida em 30 de setembro de 1931, era natural do Verdugal, uma pequena aldeia situada perto de Pera do Moço.

Aos 13 anos que ela teve uma experiência transformadora durante um retiro espiritual para raparigas, no Outeiro de São Miguel.

Durante esse encontro, Maria Alice sentiu um chamamento interior para viver em comunidade e dedicar-se à adoração eucarística. Compreendeu que era a sua vocação e seguiu esse caminho com coragem e determinação. Por essa altura, os pais e irmãos, tinham determinado que emigrariam para o Brasil e, naturalmente, queriam levá-la também. Mas, a irmã Alice foi irredutível, preferiu ficar na comunidade do Outeiro. Não acompanhou a família. Dedicou-se fervorosamente à missão a que se sentiu chamada, sem arrependimentos.

Três vezes por semana, ela levantava-se no meio da noite, precisamente às 2 horas da madrugada, para rezar diante do Santíssimo Sacramento, na capela. Ali, em profunda comunhão espiritual, ela encontrava paz, conforto e força para enfrentar os desafios do dia a dia. Às 4 horas da manhã, ela voltava a deitar-se, sabendo que, algumas horas mais tarde, às 7 horas, deveria levantar-se novamente para cuidar de crianças, em idades da creche e do pré-escolar, espalhando bondade e despertando para a fé quantos lhe estavam confiados.

Iniciou a sua atividade com crianças na cidade do Fundão e nos idos anos sessenta, dedicou-se na creche localizada em Belém- Lisboa. 

Mais tarde, concluiu o curso de educadora, no Porto, e assumiu a responsabilidade pela creche e jardim de infância na Guarda-Gare. Além do seu horário de trabalho, a irmã Alice estendia a sua dedicação às crianças, sem se preocupar com o tempo. Algumas mães só chegavam mais tarde para virem buscar os filhos, e por isso eles acompanhavam-na até o Outeiro de São Miguel, após o encerramento do Abrigo da Sagrada Família.

A presença da irmã Alice era pautada pelo bom humor, dona de uma serenidade profunda irradiava boa disposição. Enfrentou os desafios e adversidades sem que estes lhe roubassem a profunda alegria que a habitava e comunicava com o sorriso. A devoção à Eucaristia e o serviço generoso às crianças e à comunidade eram reflexos de sua espiritualidade.

A Irmã Alice optava por gestos discretos, destinados a proporcionar conforto aos necessitados sem que as outras pessoas se apercebessem. Por exemplo, a irmã Alice não se dirigia ao Abrigo da Sagrada Família sem antes ter realizado a limpeza das salas dos alunos da escola que funcionava no Outeiro de São Miguel. Da refeição, no Abrigo, guardava uma peça de fruta para oferecer a uma estudante que ficava acordada até tarde e, se o silêncio inoportuno ameaçava instalar-se, contava uma história passada com ela, onde nunca surgia como heroína, mas que todos achavam piada.

Com os familiares emigrantes, a sensibilidade para os alunos na mesma situação era muito apurada. O volume de cartas era grande e ela encarregou-se do correio tendo os CTT instalado um posto, ali, nas instalações do Outeiro de São Miguel ao cargo da irmã Alice.

Nunca se poupou e depois dos oitenta anos a irmã Alice começou a ficar cada vez mais limitada. Começou a depender de um andarilho e, posteriormente, de uma cadeira de rodas, o que não a impedia de participar nos atos comunitários. Nas últimas semanas, vários sistemas do seu corpo entraram em falência. Tinha dificuldade em respirar, perdeu por completo o apetite. No hospital, descobriram uma perfuração na vesícula e foi submetida a uma cirurgia.


Melhorou pouco, e ontem, dia 13 de maio, partiu serenamente deste mundo, sendo acolhida nos braços amorosos de Nossa Senhora de Fátima.

Que a história de irmã Alice de Jesus nos inspire a buscar a comunhão com Deus, a adorar o Santíssimo Sacramento e a dedicar nossas vidas ao serviço aos outros.

A sua memória é uma bênção e sua vida um testemunho do poder transformador da fé.

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