Numa confidência da Sr.ª D.ª Alfreda Nogueira, no que se chama: o seu leito de morte, no hospital, onde veio a falecer poucos dias depois, fiquei a saber que nos idos anos 20, ela e a irmã, D.ª Ana Nogueira, orientadas pelo então visitador apostólico da diocese, João de Oliveira Matos, viviam na sua casa de família, em São Romão, segundo uma regra elaborada e personalizada para as duas; que tinha os mesmíssimos objetivos da Liga dos Servos de Jesus, cujo nascimento se coloca um par de anos mais tarde, no retiro da Lajeosa, em 1924.
Por isso, com um sorriso cúmplice, D. Alfreda colocava o embrião da Liga dos Servos de Jesus, nessa vila de Seia, onde o padre Martinho foi pároco de 1950 até 2018.
D. Ana Nogueira, e uma comunidade da Liga dos Servos de Jesus, estiveram lá, no seu território paroquial, para o assessorar na sua missão.
Onde alguns leigos não mantinham o compromisso da animação litúrgica dominical, o pároco encontrou sempre fidelidade nas irmãs da Liga dos Servos de Jesus que escolhiam cânticos de acordo com a época litúrgica e os propunham, fazendo tocar o órgão, durante a celebração da missa.
Não se dispensava, o sr. padre Manuel Martinho, da caridade. Algumas vezes, sem que a mão direita soubesse o que fazia a mão esquerda, pagou rendas em atraso a famílias carenciadas e em perigo de perderem a casa onde viviam com os filhos. Socorreu muitos aflitos com necessidades materiais. Mas, também no domínio da caridade, teve o grande labor da comunidade da Liga dos Servos de Jesus, e da família Nogueira, na proteção dos mais pobres, das crianças, dos que precisavam de uma sopa e do pão.
Acusado, uma vez, de não falar nem divulgar a vida do agora venerável: João de Oliveira Matos; isto nas suas homilias e encontros paroquiais, a sua reação não podia ser sido de maior contrariedade e surpresa. Arregalou os olhos, recuou, mas nada disse. Bem sabia que não é quem diz: Senhor, Senhor… mas aquele que faz a vontade; esse é que é o seguidor e o apóstolo. Ora, o padre Martinho, era um adorador profundo e generoso de Jesus, na hóstia consagrada. Caracterizou-se pelo amor à eucaristia. A sua presença, pessoal, nas horas mais difíceis e noturnas, sempre que propôs o Sagrado Laus Perene às suas comunidades, era uma certeza. Foi o diretor diocesano do Apostolado da Oração. E isto foi a melhor divulgação que podia e fazia, da vida e valores do sr. D. João.
Com justiça, em 1995 foi escolhido para ser o delegado Diocesano ao Congresso Eucarístico Internacional.
E, ao sentir que se avizinhava ser dispensado das funções de pároco, chamou para São Romão a celebração da Festa Anual da Liga dos Servos de Jesus. Festa que se prepara com uma noite de adoração ao Santíssimo. Festa que várias testemunhas confirmaram ter tido a graça de uma procissão com Jesus Sacramentado, pelas ruas da vila, acompanhada de um santo silêncio e manifestações de respeito e até afeto, ao ocupante da custódia que se deslocava entre a Igreja paroquial e a casa das irmãs, onde ficou toda a noite, solenemente exposto.
Morreu o padre Martinho, em 18 de janeiro 2022, aos 96 anos de idade; e não foram em vão as suas horas de adoração. Perpetuou, nos paroquianos, a fé no Santíssimo Sacramento, e estes, agora, esperam como ele, que Jesus venha, e sabem que o seu Reino não terá fim.
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