"Como terna e grande mestra, Maria introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do amor trinitário e leva-os a saborear Deus como a realidade mais bela da existência humana"
Acaba de terminar a celebração da ‘oitava
do tempo pascal’. Entretanto, permanecem os “aleluias” da ressurreição. Só Aquele
que Vive (o Vivente), o Ressuscitado, o Senhor da Vida, o que tem as “chaves” da
morte e do Abismo, só Ele dá sentido pleno ao existir de cada um de nós. “Se morrestes com Cristo, também ressuscitastes
com Cristo”.
Mas a nossa memória é bem curta e a
rotina diária facilmente nos faz esquecer os mistérios recentemente celebrados.
Assim, muitas festas cristãs, nascidas
da fecundidade da Vigília Pascal, vão perdendo a sua frescura e encanto e rapidamente
nos aparecem sem qualquer conteúdo teológico para não falar já da falta de fé.
Caímos rapidamente no sensorial, nas realidades materiais, no provisório e no efémero
que, subtilmente, nos cansam e esgotam. É sempre o “dejá vu”. Até a
celebração festiva do mês de maio parece perder fulgor entre nós e nas nossas
comunidades. O encanto e a alegria de outrora desapareceu. Fátima
transfigurou-se. Parece ter entrado num mero “roteiro turístico” e nem sempre
as multidões aí presentes manifestam sentido de comunhão. Tantos e tantas aí
vão apenas por ‘turismo religioso’ e para celebrar a ‘sua fé’. Há que cumprir
as ‘promessas’ e vir embora.
Sabemos que só uma fé solidamente alicerçada
e uma vontade firme, acrescida da Graça divina, nos poderá catapultar para uma
vivência cristã.
A sociedade de hoje e cada um de nós vai
gerindo interesses próprios. A nossa ligação a todos através dos ‘media’
espartilha tudo. Espartilha o espírito de família, de comunhão, de partilha e até
de Igreja. São tantos os eventos que a nossa dispersão rapidamente atinge o
auge. Raramente cada um de nós tem tempo para si, para o outro, para o necessitado.
Quantas vezes, a nossa existência se manifesta num ritmo “uniformemente
acelerado”. Cada vez mais, sentimos receio de parar, receio de nos
reorientarmos, receio de que o tempo se escoe rapidamente.
Me parece até, que raramente, saboreamos
a vida; raramente, olhamos e refletimos sobre os acontecimentos e seu
significado. Perdemos facilmente o gosto pela vida. Mais do que nunca parecemos,
quais crianças “insensatas”, vítimas da uma tenacidade desenfreada.
Recordo os meus progenitores, sobretudo
a minha mãe, quando, depois das correrias loucas com os miúdos da minha idade,
me dizia serenamente: “ - … e se te
sentasses aqui, um pouco, junto de mim?! Nunca estás ao pé de mim”. Porventura
hoje a linguagem já mudou e lá estarão as mães de agora: “ – (…) e se deixasses um pouco o teu ‘iphone’ e o ‘face book’ e
conversássemos sobre nós? (...) presta atenção estou a
falar contigo” . Mas, tal como no meu tempo, continua a não haver tempo
para isso. Só há tempo para o que cada um quer. Ás vezes, são os próprios
filhos a acusar os pais de que não têm tempo para eles.
Hoje, neste mês, fica o convite de, com
a Mãe, com a Senhora, com a nossa Rainha, com a Serva das servas, com a Senhora
de Fátima, olharmos para ela, de parar e, junto dela, descansarmos um pouco. Como
filhos. Fica o convite para olhar o Seu Filho e o seu amor por nós; fica o
convite de olharmos para a nossa Vida e, numa entrega amorosa, saboreamos
eflúvios da Vida Eterna que se iniciou em nós, não sei bem quando
MÃE
Mãe - que adormente este viver dorido, E me vele esta noite de tal frio, E com as mãos piedosas até o fio Do meu pobre existir, meio partido... Que me leve consigo, adormecido, Ao passar pelo sítio mais sombrio... Me banhe e lave a alma lá no rio Da clara luz do seu olhar querido... Eu dava o meu orgulho de homem - dava Minha estéril ciência, sem receio, E em débil criancinha me tornava, Descuidada, feliz, dócil também, Se eu pudesse dormir sobre o teu seio, Se tu fosses, querida, a minha mãe! |
Guarda,
01-05-2019
Assistente
Geral
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P.
Alfredo Pinheiro Neves
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