"Se nos deixarmos iluminar pelo Sol que é Deus, haveremos de resplandecer para outros com a suavidade do mesmo Deus...
«COM O ROSTO DESCOBERTO, REFLETIMOS A GLÓRIA DO SENHOR! »

A noite estava serena
e com lua cheia. Lembrei-me, ao olhar para ela, dos provérbios populares e em
voz alta fui-os recordando aos que me acompanhavam nesse momento: “O luar de janeiro não tem parceiro” e
ainda “lá vem o luar de agosto que lhe
dá no rosto”. Era deste modo que apareciam citados no meu livro da escola
primária, penso que da terceira classe. Depois de tagarelarmos sobre isso
foi-se fixando em mim o que passo a partilhar convosco.
Sabemos que a lua não deixa de refletir em si
a magia do sol e logo que se faz noite mais generosa e intensamente a reflete,
oferecendo-a a quem quer que seja. Não possui luz própria mas toda a luz que
recebe partilha-a mostrando o seu esplendor. É verdade que há sempre uma face que
mantém oculta e que não podemos ver pois não é iluminada. Também é verdade que
de vez em quando, só se pode ver uma parte dela e se a lua se colocar entre a
terra e o sol, apesar de iluminada, é impossível vê-la. Foi assim que nos
ensinaram desde tenra idade e é assim que realmente acontece.
Se
em vez da terra, lua e sol ousarmos falar de Deus, nós e os outros entramos num
paralelismo metafórico do qual nem sempre nos lembramos dele. Sendo Deus, (a
Trindade), o Sol Pleno, O Verbo encarnado, a Luz total que nos ilumina e o
Espírito quem nos ensina a amar como Deus, cada um de nós não pode deixar de
ser iluminado por esse Mistério e quanto mais o assimilarmos mais sentido terá
a nossa existência e apareceremos como rosto iluminado, capazes de dar sentido
aos outros que nos rodeiam.
Tal como Moisés que depois de contemplar a
Deus, aparecia com o rosto resplandecente e que tinha de tapar diante dos seus,
assim também nós se nos deixarmos iluminar pelo Sol que é Deus, haveremos de
resplandecer para outros com a suavidade do mesmo Deus. Recordemos o que
escreveu Santo Ambrósio: “Se Deus se
digna visitar a nossa alma então nada nos lançará na escuridão. O rosto do
homem torna-se como luz para quem o vê. Cristo é o esplendor eterno das nossas
almas e enviado pelo Pai à terra, Ele nos ilumina com a luz do seu rosto”.
Quantas
vezes nos queixamos de que Deus nos esconde o seu rosto…!
Ainda
que o Senhor nos possa esconder o Seu rosto jamais deixaremos de ter gravado em
nós a Sua Luz. Recorda-nos S. João que o Verbo é a luz verdadeira que vindo ao
mundo a todos ilumina. Neste mesmo sentido ensina-nos S. Paulo: “Deus faz brilhar a Sua Luz em nossos
corações, para que se conheça todo o esplendor da sua Glória que se reflete no
rosto de Cristo”.
Como é significativa a oração deste ano jubilar da
misericórdia ao apresentar Jesus como Rosto do Pai e ícone do rosto da Igreja e
do nosso próprio rosto: “ Senhor Jesus
Cristo, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos. Vós sois o rosto visível do
Pai invisível, fazei que a Igreja seja no mundo o vosso rosto visível, Senhor ressuscitado e glorificado”.
Assim se compreendem as
palavras de S. Paulo aos coríntios: “ E nós
todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do senhor, somos transfigurados na sua própria
imagem, pelo Senhor que é Espírito”.
Iluminados pela Luz
verdadeira e na densidade da ressurreição haveremos de ser pela mesma e
refletir para os outros a necessária alegria, paz, mansidão e gradeza de
espírito.
Guarda, 01-07-2016
P. Alfredo Pinheiro Neves
(Assistente Geral)
“É pouco, de facto, o que Deus exige
para que uma alma se santifique, o que não quer dizer que seja muito fácil.
Fácil é-o para quem se
vence a si próprio e tudo confia a Deus;
Difícil
para quem não luta para com as próprias paixões, nem desconfia de si e das suas
forças,, para tudo confiar a Deus.»
D. João, Amigo da verdade 593 (1938)
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