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Ir. Maria do Anjos Mendes Nabais

 IR. MARIA DOS ANJOS MENDES NABAIS


A Ir. Maria dos Anjos Mendes nasceu no Vale da Senhora da Póvoa, no dia 04

de agosto do ano de 1933. A sua família era composta por cinco irmãos, três raparigas e

dois rapazes. Estão entre nós duas irmãs e um irmão. Foram seus pais: Joaquim António

e Maria José Mendes.

Quase a despedir-se dos seus 89 anos de idade, todos eles gastos no

conhecimento de Deus e na vivência do seu Amor, deixa em cada um de nós um misto

de tristeza, saudade e de paz.

Foi só nos anos de oitenta e cinco, que nos demos a conhecer, numa tarefa

comum a ambos, embora em serviços diferentes: acompanhar o despertar vocacional

dos rapazes em Seminário menor.

Sim, foi no Seminário Menor do Fundão que fomos acompanhando os rapazes

de então e que, no seu currículo escolar normal, não punham de parte a hipótese de

seguir o sacerdócio ministerial.

Até essa data sabia apenas que os seus ‘deveres’ tinham passado por, no Colégio

da Cerdeira, ter acompanhado as adolescentes que aí estudavam.

Sobre esse tempo e tudo quanto fica para trás, outros saberão mais e melhor do

que eu e poderão também dar o seu testemunho.

Esta irmã, desde a sua chegada ao seminário foi-me dizendo que era com muito

sacrifício que tinha aceite esse desafio e que os ‘miúdos’ nada tinham a ver com as ‘suas

meninas’.

Sorri e calámo-nos. Cada qual prosseguiu na sua missão…

Dia-a-dia fui notando o seu “afeiçoar-se aos garotos”, o “querer-lhes bem”,

sempre a “defendê-los fosse onde fosse”. Também o respeito, a simplicidade e o gostar

de estar com ela, foram crescendo nos rapazes do seminário. As ‘traquinices

quotidianas’ desses rapazes apenas revelavam um modo de comunicar com ela. Quando

ultrapassavam os limites próprios da ‘idade de rebeldia’ sempre lhes respondia com um

olhar de reprensão e de tolerância.

Quando ‘caiam doentes’, era com generosidade extrema que lhes levava as

refeições, ou um ‘mimo’ para a garganta. Se os via distraídos no estudo, alertava-os

para a necessidade do mesmo. No ‘comércio’ recomendava-lhes que adquirisse só o

necessário.


Nunca duvidei do carinho, amor e amizade que nutria por todos. Mas era na

oração e sacrifícios que por eles fazia, que os recomendava a Deus e a Maria. Como lhe

custava a rapidez e ‘frivolidade’ com que eles rezavam na capela. A rapidez e

‘despacho’ na oração era apenas motivada pela necessidade da brincadeira e do futebol.

Todo o tempo era pouco para jogar fosse o que fosse.

Só nessa altura começavam a aparecer os primeiros telemóveis, com os

primeiros jogos virtuais e os Mp3 que tanta dissipação causavam.

O ter aceite este desafio enriqueceu a Comunidade das irmãs do Seminário e

levou muitos rapazes a perguntarem-lhe sobre o ideal que abraçara. A todos deu uma

resposta simples, mas verdadeira. Esta deixava-os pensativos…

De uma irmã com temperamento muito sério, moldou-se numa outra irmã de

trato fácil e adaptado a pequenas brincadeiras. Situações caricatas fizeram-na rir em

momentos delicados e de responsabilidade. (Até na missa). Admirei-me como foi capaz

de se tornar compreensiva, simples e generosa.

Faziam parte do seu ideal a intimidade com Deus e comtemplar os Seus

Mistérios.

A eucaristia, a adoração, a leitura da Palavra e a procura da vontade divina eram

os seus pilares. Nunca os deixou. O cumprimento do ‘dever’ era um Escritura.

Amava a verdade, detestava as injustiças e testemunhava o seu apreço por todas

as pessoas. A quem precisasse não deixava de lhe fazer bem.

Qualquer Formação que existisse era a primeira a participar e a levantar

questões. Gostava de se cultivar. Assim lhe pedia o seu Fundador.

Qualquer atenção que tivessem para com ela nunca deixava de agradecer.

Deixei o Seminário para ir para outras lides. Contudo não deixei de a contactar

quando também ela foi chamada a um outro serviço. Voltei, mais tarde, a encontrá-la de

novo integrada na comunidade da Cerdeira do Côa. Confidenciou-me que agora tudo

era diferente. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…” assim escrevia o poeta.

Mas ela como sempre estava para servir.

Nunca evitou canseiras para obter o que mais desejava: conhecer Deus, os seus

mistérios, a sua vontade e estar disponível, dizendo sim, onde pudesse ajudar.

Preparou-se para o Encontro com Ele. Com Ele serenamente se encontrou.

- “Acabou de partir…” - disseram-me. Eram 18.30 horas do dia 19 de janeiro de

2023. Quase noite; dia pleno para ela.

Ficamos mais ricos…


Será mais uma intercessora junto de Jesus Cristo a quem sempre serviu. Por

outro lado, deixa saudade aos seus e a quem de perto com ela conviveu.

Estou convicto que para tantas perguntas que formulou, terá encontrado a

resposta mais adequada e que ninguém lhe soube dar. E a visão de Deus saciou já a sua

fome de querer saber e de a Ele se entregar em plenitude.

Que reze por nós! é esse o nosso desejo. Tenho a certeza de que não se

esquecerá e o fará em perfeição.

Repousa no cemitério da Comunidade Paroquial da Cerdeira do Côa, com quem

viveu, por quem rezou e abraçou de coração. Não longe, corre o rio serenamente, com o

seu caudal, também ele em busca do mar.

Sentidos pêsames a toda a sua família, à comunidade da Cerdeira e à Liga dos

Servos de Jesus.

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