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NOS JARDINS DE UMA CIDADE!










Por motivos vários não é difícil deslocarmo-nos e usufruirmos um pouco do jardim de uma qualquer cidade ou vila tanto melhor se ele se encontrar  remodelado. O calor convida ao passeio e a necessidade de se usufruir de um pouco de música, de uma bebida ou da presença de pessoas amigas mais facilmente nos detém os passos. É fácil deparar-me com quadros familiares só propícios às noites de verão. Os “protagonistas principais” serão sempre as criancitas. Umas dormitando no colo dos progenitores; outras, mais cansadas, nos carritos de bébé; outras fugindo aos pais, numa correria pouco segura quanto irrefletida, outras ainda, empertigadas nos poucos anos de vida, parecem gente de palmo e meio. Correm atrás da bola, tentam o equilíbrio na pequena bicicleta ou na trotinete que guiam por entre os transeuntes. Há sempre as mais velhitas que imploram um gelado e as que fazem “birras” porque o sono as aborrece.

Quando os pais não podem estar, são os avós que se responsabilizam por elas. Cansados e batidos pela idade “veem-se” e “desejam-se” para corresponderem às exigências das brincadeiras infantis. Isso é bem evidente quando se trata de “jogar às escondidas”, ou conseguir uma “finta de corpo” dominando a bola de futebol. Só a simplicidade e a ingenuidade delas são as únicas vantagens para eles. Raramente conseguem chegar, ao local combinado, primeiro que elas. Duas ou três corridas e desistem. Estão “pesados”, marcados pelo “reumatismo”, desafiados pelas suas ou pelas doenças de alguém, vivendo preocupados com as agruras da vida real ou as memórias da que já foi vivida. No futebol perderam toda a agilidade e a garra dos tempos de outrora perdeu-se também. Além disso o calçado não está adaptado e tantas outras desculpas, algumas inventadas para ocultar a vida já vivida. Enfim, tempos idos e que não voltam.

Mesmo assim:

Admiro estes pais, estes avós, estes padrinhos ou tios. No seu tempo não tiveram, digo eu, esta ternura, esta paciência, esta disponibilidade por parte dos seus pais ou outros familiares. A vida era adversa. Contudo eles souberam “recriar-se e reinventar-se”. Transfiguraram-se e o que lhes faltou então dão-no agora gratuitamente.

Admiro as crianças. Elas acreditam nos avós e apostam tudo nos pais. Eles serão, para já, os seus heróis. Em tempos idos, ainda que a realidade fosse a mesma, a manifestação destes sentimentos, era bem diferente. Nessa altura, o “grupo” tinha um papel mais preponderante. Os “bandos infantis” eram mais numerosos e a “rua” ensinava mais. Era a “Mestra”. Raramente uma “Mestra” ideal.

E fico-me a pensar na narrativa do Génesis 3,8-10. Deus veio também e não deixou, pela brisa da tarde, de percorrer o “jardim” por Ele criado. “ - Onde estás? ” – Perguntou. “ - Ouvi o rumor dos Teus passos, tive medo e escondi-me ”.

A humanidade inteira escondera-se de si e de Deus. Tinha desobedecido. Quebrara-se o bucolismo da natureza, a harmonia, a familiaridade com Deus, a Paz e o Amor. Cessaram as Relações. Voltou o caos. Como seria belo esse “Paraíso”, A julgar pelos agradáveis quanto efémeros momentos destas tardes-noites da minha cidade, como seria belo esse Paraíso.

Mas Deus não desistiu. “ - Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre os animais selvagens. (…) Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar”.

E, durante mais uns momentos, dou asas à minha reflexão: É por isso que, neste novo mundo, nesta nova maneira de viver, Deus não deixa de estar presente acompanhando sempre cada idade, cada situação, cada momento da História, da minha história. Todos continuamos a ser Seus Filhos, a sermos da mesma “massa”, a precisarmos do Seu Carinho, da Sua Paciência, da Sua Bondade e sobretudo da Sua Presença nas nossas “loucuras” de gente crescida e empertigada no nosso nada em crescimento.

Tal como as crianças, tal como os pais, em tempos lúdicos, familiares e fugazes, nos muitos “jardins” da cidade que sou, Deus marca encontro comigo. Não perde oportunidade alguma; em todos os desafios, ganha sempre e, mesmo que Lhe resista, leva sempre a melhor. Ele é Vida plena, sempre jovem e sempre o Primeiro e o Último a desafiar-me, para que eu possa vencer, não só agora ou no outono da vida, mas também quando o inverno chegar.





Guarda, 01-09-2018



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P. Alfredo Pinheiro Neves

Assistente Geral


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